O ULTIMO RECURSO

Quais as possibilidades da existência humana dentro da sociedade em que vivemos? Quais são as nuances do consumo excessivo de substâncias e recursos em uma era marcada pela efemeridade e busca desenfreada por prazeres e soluções imediatas? Estas são algumas das questões norteadoras do trabalho desenvolvido pelo artista Vicenzo Arendt. Na série The Last Resort o artista caminha entre a pintura e a reapropriação de materiais, num processo de ir e vir entre instrumentos clássicos dentro do universo da arte — tintas, telas e pincéis — e a exploração de elementos não convencionais, com blisters de remédios, zip locks, canudos, preservativos, cartões de crédito e a massa plástica. Obras dispostas lado a lado em um intenso e constante diálogo visual. O tema central — metamorfose, liberdade e ressignificação — é simbolizado pelo ícone da borboleta, presente em todas as peças. Em uma série que combina figuras humanas e abstrações

texturais, o artista nos conduz a uma reflexão profunda sobre a existência humana, seu potencial de transformação e ressignificação e a busca por prazer, bem-estar e felicidade. As assemblages refletem questões relacionadas à vulnerabilidade e fragilidade da existência humana em paralelo com a busca por prazeres imediatos. Em seu processo de produção evoca também questões próprias da própria produção artística contemporânea e sua capacidade de adaptação e reinvenção. Nas pinturas dos corpos masculinos sem faces e em posições sugestivas, emitindo a sensação de introspecção, transformação, efemeridade e libertação, o artista reflete sobre as complexidades da identidade e individualidade. Os dois formatos dos trabalhos apresentados nascem paralelamente e com simbolismos diferentes em suas camadas mais profundas e ocultas. A borboleta surge como um elemento que une os diferentes trabalhos da série e insere significantes fundamentais: a metamorfose, o renascer, a transformação, a renovação, o efêmero. Uma lembrança de que nada é estático, mudanças se apresentam como uma constante, não há

previsibilidade no percurso que inevitavelmente percorremos e a metamorfose sempre nos aguarda. The Last Resort nos convida a pensar, e repensar, a forma como nos relacionamos com nossos corpos, existência, finitude e ciclos.

Kamila Bach

Curadora